Biografia de Paulo Moura chega às livrarias com músicas inéditas por Eduardo Tristão Girão - Diário de Pernambuco

Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
07/08/2011 | 18h52 | Livro

Falar bem de Paulo Moura era fácil, difícil foi escrever um livro sobre ele. O clarinetista, maestro, compositor e arranjador paulista, que morreu ano passado, rejeitou todas as propostas que recebeu de jornalistas e escritores: queria que fosse a mulher, Halina Grynberg, a autora da obra. E assim foi feito. Baseado em entrevistas realizadas entre 2008 e 2009, e envolvendo apenas os dois, Paulo Moura, um solo brasileiro (Casa da Palavra/LeYa) acaba de chegar às livrarias em bem cuidada edição, incluindo CD de inéditas.
O projeto foi iniciado em 2008, quando o artista, um dos mais importantes nomes da música instrumental brasileira, tinha 75 anos. Halina, psicanalista e escritora polonesa radicada no Rio de Janeiro desde criança, foi casada com ele durante 26 anos e se tornou sua empresária e produtora artística. Credenciada por tamanha intimidade, realizou as entrevistas sistematicamente aos sábados, por volta da hora do almoço, sempre em casa.
“Entre as vantagens de eu ter feito as entrevistas está o fato de não ter feito perguntas inocentes, por saber o que importava para ele e conhecer a direção que teve a sua carreira. A intenção não foi fazer um livro de fatos da vida, mas da música. Paulo era, como ele mesmo dizia, uma alma que vibrava ao som da matéria. Inspirava música e expirava som. Acreditava no compromisso religioso e espiritual com a vida, compartilhando seu dom”, define ela.
Sem comprometimento com o formalismo da maior parte das biografias, o livro transcorre quase como bate-papo. A esposa pergunta e o marido responde. No entanto, o conteúdo é agrupado em torno de quase 30 tópicos, englobando não apenas reflexões sobre influências e inovação na música, mas também depoimentos sobre a relação com a família. Ao final, há belo ensaio da fotógrafa norte-americana Alex Forman, feito na casa de Paulo, no Rio, onde tudo permanece como o músico deixou.
Saideira Fruto maduro, CD que vem encartado no fim do livro, é composto por 10 faixas inéditas, quase todas escritas por Paulo e André Sachs, violonista e guitarrista com quem se encontrou semanalmente entre 2005 e ano passado. É um dos últimos registros do clarinetista. “É um projeto experimental do Paulo, um namoro com a música eletrônica no qual ele improvisava sobre bases que André lhe apresentava. Assim, livremente, criou harmonias em estúdio com André, que é também um grande engenheiro de gravação”, conta ela.
Na verdade, a palavra eletrônica usada por ela adverte (ou assusta) mais do que o necessário. Músicos “de verdade” integram as diversas formações que marcam presença no disco, gente do quilate de Andréa Ernest Dias, Laudir de Oliveira, Cliff Korman, Jovi Joviniano e Gabriel Grossi. “Alguns vão estranhar, mas entenderão esse som daqui a uns cinco anos”, acredita Halina. Com composições belas como Chorinho para Mignone e Paulo solando livre pelos 50 minutos do álbum, talvez não demore tanto.
Paulo Moura, um solo brasileiro
De Halina Grynberg
Casa da Palavra/LeYa,
240 páginas, R$ 55
Vem aí
O lançamento do livro inaugura as ações do Instituto Paulo Moura. “Não é uma instituição com sede, nem dependente de governo. O espírito é contemporâneo, pois se trata de plataforma de ações culturais”, esclarece Halina. Na sequência, será iniciado processo de digitalização do acervo de partituras, arranjos, anotações e todo tipo de material escrito pelo músico, utilizando a mesma tecnologia empregada pelo Instituto Antônio Carlos Jobim. Para ano que vem, também pelo instituto, Halina promete caixa de cinco CDs, incluindo fonogramas raros, dispersos em vários catálogos desde 1956, com comentários do escritor Ruy Castro. Além disso, estão previstos documentário de Eduardo Escorel e livros digitais, tudo sobre o músico. O portal da entidade está em desenvolvimento e disponibilizará material gratuito, como as partituras digitalizadas.
Por Por Eduardo Tristão Girão - EM Cultur