domingo, 14 de agosto de 2011

Memórias instrumentais – O Popular– Goiania

Música

Mulher do clarinetista e saxofonista Paulo Moura lança livro de entrevistas com o marido, que vem acompanhado do último disco de inéditas do músico, um ano após sua morte

Rodrigo Alves 10 de agosto de 2011 (quarta-feira)

Paulo Moura: artista, morto em 2010, deixou dez fonogramas inéditos, agora resgatados

Paulo Moura: artista, morto em 2010, deixou dez fonogramas inéditos, agora resgatados

Um dos nomes mais importantes da música instrumental brasileira, o saxofonista e clarinetista, compositor, arranjador e maestro Paulo Moura (1932-2010) acaba de receber uma bela homenagem póstuma, um ano após sua morte. Paulo Moura, Um Solo Brasileiro , livro-CD, traz, além de dez fonogramas inéditos do ícone musical, uma série de entrevistas conduzidas pela escritora e psicanalista Halina Grynberg, mulher do músico nos seus últimos 26 anos de vida. Lançado em brochura em uma edição esmerada e bilíngue (tem versão em inglês dos textos) pelo selo Casa da Palavra, o livro contém uma série de entrevistas conduzidas por ela ao longo do relacionamento do casal.
Apontado com um dos nomes mais geniais da música instrumental brasileira, Moura revela nas entrevistas questões pessoais nunca antes exploradas ao longo da carreira. Uma delas foi a difícil relação com seu pai. Expõe também bastidores de sua carreira e se abre ao falar de sua forma de trabalho de criação até hoje apontado em como vanguardista.
Perfeccionista, o músico devotou a carreira musical ao desejo de deixar sua marca ao que chamava de "solo brasileiro". Sua proposta: fazer uma música instrumental de origens genuinamente brasileiras, na mistura de sons do samba, choro, música erudita e o jazz que se desenvolveu no País.
Sua música é feita ainda com uma pitada acentuada de ritmos africanos, bandeira que rendeu a ele, inclusive, homenagem pouco depois de sua morte do Congresso norte-americano, pelo engajamento em usar a música contra o racismo. O CD que acompanha o lançamento, batizado de Fruto Maduro , dá provas desse tempero afro-brasileiro tão acentuado na obra de Moura. Produzido por André Sachs, outro músico com fama de perfeccionista que ao mesmo tempo cede ao improviso jazzístico no momento oportuno, o disco vinha sendo produzido ao longo dos últimos cinco anos.
Nele, Paulo Moura mostra, pela primeira vez, o flerte de seu repertório com elementos da música eletrônica que vinha experimentando nos últimos anos. "Paulo é invenção infinda, imensidão criativa que recusa a linearidade", comenta Halina no livro, sobre a busca constante do marido pela inovação. Nove das dez faixas são assinadas por Moura. Duas são só dele, sete são parcerias com André Sachs (também violonista, guitarrista e tecladista) e a outra é a clássica Caravan , de Irvin Mills, Juan Tisol e Duke Ellington, registrada em suingado arranjo de samba feito por Moura.
Trajetória
No livro, ao todo, Halina compila histórias que são frutos de mais de 20 horas de gravação de entrevista. Ela conta a trajetória de Moura desde suas primeiras aulas de piano, aos 9 anos (era filho de uma família de músicos), passando pela mudança de São José do Rio Preto (SP), sua cidade natal, ao Rio de Janeiro, até sua sagração como solista. No Rio, alcançou seu ápice na década de 1970, quando passou a atuar em disputados shows solo. Antes disso, para sobreviver, também atuou como arranjador de orquestra de rádio e televisão.
Além da vida profissional, Moura também dá detalhes de momentos íntimos com a família, fala sobre algumas de suas referências estéticas e ainda reflete sobre seus conceitos musicais. Em muitos momentos, as falas transcritas de sua narração têm pouco sentido aparente, por conta do fluxo de pensamento. Neste momento, Halina se insere no texto para dar explicações ao leitor. É assim, por exemplo, que ela contextualiza algumas situações do dia a dia do casal.
O livro também relembra as parcerias importantes do maestro. Entre os nomes com que atuou, estão gente como Ary Barroso, Dalva de Oliveira, Elis Regina, Milton Nascimento e Sérgio Mendes. Sempre trafegando entre a música clássica, o jazz e a música popular, o clarinetista e saxofonista também foi um assíduo frequentador do Beco das Garrafas, reduto em Copacabana que concentrava bares e clubes noturnos da bossa nova e do samba-jazz, no início dos anos 1960.
Incansável, nos anos 1980 dirigiu por dois anos o Museu de Imagem e do Som (MIS), no Rio. As duas últimas décadas foram de muito trabalho, excursionando pelo mundo e gravando discos como, entre outros, Dois Irmãos (em 1992, ao lado do violonista Raphael Rabello), Instrumental no CCBB (em 1993, com o saxofonista e flautista Nivaldo Ornelas), Brasil Musical (em 1996, com o pianista Wagner Tiso), Pixinguinha: Paulo Moura & Os Batutas (de 1998) e Mood Ingênuo (em 1999, com o pianista americano Cliff Korman).

Disco: Fruto Maduro , de Paulo Moura
Livro: Paulo Moura , Um Solo Brasileiro , de Halina Grynberg
Selo: Casa da Palavra
Preço médio do pacote: R$ 55

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