domingo, 21 de agosto de 2011

Livro sobre o grande instrumentista brasileiro traz depoimentos dados à sua mulher, Halina Grynberg–por Kubitschek Pinheiro–Correio da Paraiba

paulohalinadomingos copy

    Depois do CD Alento com selo da Biscoito Fino, sai agora mais uma homenagem – desta vez, literária - a um dos maiores nomes da música instrumental brasileira: Paulo Moura. O livro Paulo Moura, um Solo Brasileiro (Editora Casa da Palavra), que foi impresso na paraibana Gráfica Santa Marta, é uma entrevista inédita, fruto de uma série de conversas com sua esposa, a escritora e psicanalista Halina Grynberg.
    Grynberg compilou as entrevistas e as transformou nesta obra, que inaugura a primeira ação do recém criado Instituto Paulo Moura, em prol da música instrumental brasileira. O primeiro lançamento aconteceu na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Durante um ano e meio, a autora coletou o material que agora desvela a essência artística e sensível de Paulo Moura. Divagações com relação à família, tradições musicais que o marcaram, inovações estéticas que vanguardeou, reflexões conceituais sobre o seu savoir-faire profissional, e a devoção intensa à arte e ao desejo de criar um solo brasileiro; uma musica instrumental popular brasileira feita da miscigenação do samba, choro, musica erudita e jazz brasileiros - iluminada pela ritmica afrobrasileira que jamais cansou de refinar.
    No período da elaboração do livro, Halina, que foi casada com
o regente, saxofonista, compositor, clarinetista e arranjador de
choro, samba e jazz durante 26 anos e também era sua empresária
e produtora musical, captou com sensibilidade e precisão o melhor de sua essência. Só lendo para crer. “Ninguém jamais entrevistou
o Paulo com foco em questões difíceis para ele, muito pessoais,
como a relação com o pai”, afirma Halina. “Eu me lembro que, às vezes, à noite, quando todo mundo já estava dormindo, ele ficava na sala tocando alguma coisa, ficava por lá meio que estudando, tocando, talvez até escrevendo alguma coisa dele mesmo, tocando baixinho, e eu dormia com aquele som”, relembra a escritora.
   Em entrevista ao CORREIO, Halina conta que o livro não é
um ensaio biográfico. “É o retrato de uma vida dedicada ao desejo
de ocupar a cena artística como musico instrumental, na frente, no centro do palco, sem estar encoberto ou escondido no estúdio de gravação. Ela criava a cena como uma estrela”, afirma.

De acordo com ela, conversar com Paulo Moura era perseguir uma estética do improviso. “Nada é como parece ter sido. Paulo é invenção infinda, imensidão criativa que recusa a linearidade”,
descreve a autora, que levou pouco mais de um ano e meio pra finalizar a produção do livro, que também conta com texto de apresentação do escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo. Num dos momentos hilariantes do livro, Paulo dispara: “Eu estava estudando a minha clarineta lá em casa, quando fiquei sabendo de um programa
de calouros na Rádio Tupi. O vencedor ganharia um par de sapatos
(risos). Concorri e ganhei. Fiz um solo de ‘Lady be good’
na clarineta. Mas o interessante disso é que, para receber esse
sapato, tive que ir lá várias vezes falar com a direção do programa,
gastei muito a sola do meu sapato velho, foi complicado eles soltarem esse par de sapatos para mim...”, diverte-se
relembrando a história.
Entre as preciosidades também encontradas no livro, tem destaque
o ensaio de fotografias do estúdio do músico, ainda intacto como Paulo deixou, com as peças, instrumentos e partituras, eternizados
em fotos de Alex Forman.
   O livro acompanha o CD Fruto Maduro, produzido por André Sachs, parceiro escolhido pelo próprio Paulo Moura por ser, assim como ele, um obstinado pela excelência, dedicação e improvisação ao utilizar arranjos e estilos variados. O processo para a produção e finalização
do CD levou cinco anos. As músicas do CD encartado com direção de Paulo Moura são: “Mulatas,etc e tal” (Paulo Moura), “Caravan”
(Juan Tisol/Duke Ellington), com arranjo de Moura, “Coquetel” (André Sachs/Paulo Moura/Benita Michahelles), “Chorinho para Mignone” (Paulo Moura/André Sachs), “Macunaima” (Paulo Moura/
André Sachs), “Andina” (André Sachs/Paulo Moura), “Trem do Moura” (André Sachs/Paulo Moura), “Obstinado” (André Sachs/
Paulo Moura), “Mantenha o groove” (André Sachs/Paulo Moura) e “Chroma 2” (Paulo Moura).
   Paulo gravou 40 discos e tocou com mestres da música brasileira
como Ary Barroso, Dalva de Oliveira, Elis Regina, Milton Nascimento e Sergio Mendes. Também acompanhou astros internacionais como os históricos Lena Horne, Cab Calloway, Nat King Cole, Ella Fitzgerald, Cannonball Adderley, Sammy Davis Jr e Marlene Dietrich. Com mais de 40 discos lançados, ele ganhou o Grammy em 2000 por
Pixinguinha: Paulo Moura e os Batutas. Em 2009, ele se apresentou
na Tunísia e no Equador e lançou o CD AfroBossaNova.
Afinal, quem era Paulo Moura? “Era um sopro divino”,
fecha.

Nenhum comentário: